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06/06/2022

Entrevista com Romero Fabel - Diretor da Laminatus Engenharia

 

Quando surgiu no Brasil, a tecnologia modular industrial sofreu preconceito, mas pouco a pouco conquistou o público e ganhou seu lugar na construção civil. Dentre as suas vantagens está a redução de tempo de obra, de uso de mão-de-obra e de custos. Agora, imagine unir todos esses benefícios a mais um fator: a sustentabilidade.

 

Essa foi a proposta do empresário Romero Fabel ao criar a Laminatus Engenharia e Inovação, uma startup que usa de maneira inovadora os rejeitos de mineração para a fabricação de painéis modulares. A empresa é uma Spin-off do Grupo Laminus Engenharia, que desde 2007 trabalha com uma tecnologia licenciada de Estruturas Multilaminares de Concreto Envelopado.

 

Com 63% das barragens com alto potencial de dano localizadas em Minas Gerais e o armazenamento de 1 bilhão de toneladas de rejeito de minérios somente na região metropolitana do Estado, a Laminatus nasceu para resolver um problema ambiental latente na sua região.

 

A causa é tão nobre que motivou a criação e aprovação de um Projeto de Lei Estadual que garante a isenção do ICMS nos produtos que contenham o uso do rejeito de mineração em Minas Gerais. O próximo passo é ainda mais ambicioso: levar o projeto estadual a nível nacional.

 

Mas, se a sustentabilidade está no topo dos valores cultivados pela empresa, as parcerias também ganham lugar de destaque. É por isso que sua breve trajetória já acumula uma intensa jornada por programas de aceleração aberta.

 

Tudo começou com a aprovação do projeto de incorporação dos rejeitos de minério de zinco nos painéis para uso na construção civil, no MiningHub. Alguns meses mais tarde, a startup foi aprovada para participar do Programa Brasil Accelerate 2030, através do qual alinhou seus objetivos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU.

 

Acreditando no poder das parcerias, a Laminatus seguiu concorrendo e sendo aceita por programas de aceleração até que em junho de 2019 foi selecionada pelo Programa HousingPact.

 

Com o objetivo de produzir pilotos que solucionem problemas de moradia para as pessoas das classes C e D através da união entre grandes empresas e startups, a Laminatus foi uma das 17 aceleradas no primeiro ciclo do programa.

 

O segundo ciclo teve início em maio de 2020, quando tornou-se anfitriã do projeto piloto que consiste na construção de um Centro Cultural para a Prefeitura de Santa Luzia – MG junto às madrinhas ArcelorMittal, CBMM e Vale.

 

Atualmente na fase final dos testes, a previsão é que a obra esteja concluída no primeiro semestre de 2022, quando a Laminatus reforçará seu compromisso com o meio ambiente, tornando-se responsável pela primeira obra industrializada da construção civil do país com o uso do rejeito.

"Poucas pessoas teriam a capacidade de unir essas indústrias para realizar esse projeto”, avalia Romero sobre a visibilidade alcançada através do projeto.

Em entrevista ao Blog HousingPact, ele revela que esse é apenas o início de um caminho necessário para proporcionar melhores condições de vida ao brasileiro. Acompanhe a entrevista na íntegra.

 

Depois de anos empreendendo a Laminus, qual foi o estímulo para a criação da Laminatus?

 

A Laminus Engenharia foi criada em 2007 e sempre teve como missão inserir no mercado nacional uma tecnologia licenciada de Estruturas Multilaminares de Concreto Envelopado. A tecnologia possibilita uma infinidade de combinações, facilidade na logística e uma melhor performance no acabamento. Além disso, o sistema é considerado sustentável pois permite a redução do consumo de água, energia e mão de obra. O resultado é a redução de custos do produto final e no prazo de entrega da obra.

 

Porém, isso não foi suficiente para a área de inovação tecnológica da empresa. Já fazíamos alguns testes na área quando, em janeiro de 2019, surgiu a oportunidade de participar do MiningHub. A iniciativa procurava soluções para as mineradoras, em todas as áreas. Foi quando criamos a Laminatus e ganhamos destaque como a única startup com uma proposta na área da industrialização da construção civil.

 

A Laminatus participou do primeiro ciclo do HousingPact sendo uma das 17 startups aceleradas. Como o Programa contribuiu para o desenvolvimento da Laminatus?

 

Contar com um projeto como HousingPact tem sido uma experiência única. Para a Laminatus é um prazer fazer parte desse desenvolvimento de soluções inovadoras para o mercado da construção civil e ver o grande potencial de crescimento que tem o programa, com mentes brilhantes desenvolvendo ideias de forma ágil, eficaz e transformadora.

 

Além disso, o HousingPact foi a solução definitiva para o nosso desafio, pois estávamos procurando uma forma para validar o uso do rejeito da mineração em nosso processo construtivo e aqui, não só encontramos a resposta, mas pessoas altamente qualificadas que estão nos dando suporte suficiente para que o nosso projeto seja vitorioso em todos os sentidos.

 

Um detalhe muito importante é o networking. A repercussão do nosso projeto foi tão abrangente e positiva que os órgãos municipais e estaduais têm solicitado a nossa presença em seus gabinetes para fazermos apresentações do nosso processo construtivo com a utilização do rejeito da mineração.

 

Hoje, a Laminatus é anfitriã de um dos 8 pilotos da HousingPact, que consiste em construir um Centro Cultural para a Prefeitura de Santa Luzia – MG com uma construção modular e uso de rejeito de minerais. Conte para a gente como foi a articulação para o piloto.

 

A metodologia utilizada pelo HousingPact foi base para acelerar o desenvolvimento da empresa. As conexões promovidas com as indústrias madrinhas ArcelorMittal, CBMM e Vale, foram potencializadoras de novos negócios. Além disso, parcerias com profissionais renomados e Centros de Pesquisa como o Instituto Falcão Bauer trouxeram uma visão diferenciada para o nosso projeto.

 

Recentemente acompanhamos os resultados dos ensaios realizados pelo Instituto e conseguimos comprovar uma série de exigências como a não toxicidade do rejeito, sua resistência, flexibilidade, potencial de torção, estabilidade, entre outros ensaios. Os resultados superaram as expectativas, inclusive. Tudo isso valoriza o nosso projeto.

 

Não podemos deixar de mencionar o apoio de toda a equipe, principalmente da Gestora do Programa, Mariana Roquette, que tem sido uma parceira incondicional dessa iniciativa. Ela certamente é um dos catalisadores para a alavancagem da empresa.

 

Qual o posicionamento de mercado que a Laminatus almeja alcançar após a conclusão do piloto do Centro Cultural de Santa Luzia?

 

Com a nossa capacidade técnica, temos um leque de mercado muito aberto. Isso faz da nossa empresa muito eclética, por isso temos que valorizar tudo o que a empresa é capaz de fazer, desde obras de classe A, até classes C e D; obras industriais ou de construção civil; públicas ou privadas.

 

Mas, não podemos deixar de salientar que é uma honra fazer parte de um programa de impacto baseado no desenvolvimento de soluções inovadoras e acessíveis para problemas específicos da experiência de moradia às pessoas de baixa renda.

 

Assim, nosso objetivo após a conclusão do piloto é dar continuidade ao projeto, unindo forças com a CBMM, ArcelorMittal, VALE, bem como outras indústrias e mineradoras para identificar oportunidades de melhoria e atingir os resultados com maior agilidade.

 

Queremos contribuir com as prefeituras e minimizar os impactos da triste situação econômica/social em que o país se encontra.

 

Pensando na escalabilidade e replicação do seu produto, como a interação em rede pode beneficiar a rapidez e menor custo do processo?

 

Nosso produto tem grande potencial em nível nacional e internacional, além do apelo sustentável, abundância de matéria prima e pressão para utilizá-la.

 

Com o auxílio da equipe técnica do projeto, mapeamos a cadeia produtiva dos painéis laminares e utilizamos ferramentas e metodologias de produção enxuta que possibilitam o melhor aproveitamento do espaço, matéria prima, mão de obra e maquinário envolvido, a fim de reduzir ainda mais o custo final do produto e aumentar a produção.

 

Além disso, não podemos ignorar que a rampa de ganho de mercado existe e está diretamente relacionada com o grande déficit habitacional existente no Brasil e no mundo. É de grande interesse dos órgãos governamentais reverter esse déficit e acreditamos que, com a viabilização do nosso produto, conseguiremos atrair investimentos e parcerias devido aos inúmeros benefícios apresentados.

 

A construção modular está em voga e é uma tendência na construção civil, porém está distante de ser uma opção acessível para a população das classes C e D. Como você acredita que esses caminhos podem se aproximar?

 

Tenho certeza absoluta que a nossa solução é voltada para as classes de baixa renda. Inclusive, grandes construtoras desse segmento já estão nos procurando para usufruir da facilidade.

Aliás, uma das validações que o programa da HousingPact nos trouxe foi a definição de que o nosso público alvo é a Classe B do programa de habitação popular do governo federal.

 

O motivo é bem claro: além de conseguirmos reduzir em pelo menos 15% o valor da obra, a industrialização da construção otimiza os processos construtivos. Há, por exemplo, uma redução no prazo de entrega - em 5 dias temos uma casa de 50m2 fabricada e montada, mais cinco dias para acabamento. Também não geramos entulho, desperdício, retrabalho e aditivos aos contratos.

 

Para quem duvida, fizemos um estudo de prospecção para os próximos cinco anos e concluímos que poderemos construir 2198 unidades habitacionais de 50m2, que se enquadram no projeto Minha Casa Verde Amarela. Serão 480 mil m2 de painéis que utilizarão 106 mil toneladas de rejeito.

 

Esse é, sem dúvidas, o início de um projeto promissor. Somos uma empresa pequena, mas alguém tem que dar esse pontapé inicial e é nesse caminho que vamos seguir.