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02/06/2022

Startups de construção civil ainda enfrentam barreiras no Brasil

Responsável por 7% do PIB brasileiro, o setor da construção civil é um dos mais importantes para a nossa economia. Apesar da considerável representação no PIB do país, para que o setor amplie a sua relevância, é necessário que a área da construção civil receba investimentos, e um dos melhores caminhos para garantir que isto aconteça é por meio da inovação e do desenvolvimento de tecnologias.


No intuito de transformar essa realidade, algumas empresas, mais conhecidas como construtechs, estão tentando inovar em um setor tão tradicional. As construtechs são startups nichadas na área da construção civil, que como quaisquer outras têm um modelo de negócios repetível e escalável, mas com foco no desenvolvimento de tecnologias aplicáveis a construções. Essas empresas desafiam cotidianamente a seriedade, a solidez e o fato de a construção civil ser um setor tão tradicional e “historicamente” fechado. Ramo que atualmente emprega 7% da população economicamente ativa do mundo e é responsável por uma renda global de mais de US$10 trilhões todos os anos em produtos e serviços[1], ou seja, as construtechs têm um mercado enorme para explorar e desafiar.


Vê-se que a primeira “barreira” à expansão das construtechs é a tradicionalidade do mercado de construção civil. Outro grande desafio é o fato de o ramo carecer do desenvolvimento de uma cultura focada no uso de tecnologias. Visto como um setor tão “braçal”, a construção civil é o segundo pior setor em uso de tecnologias no mundo[2], então, é natural que as construtechs gerem dúvidas às grandes construtoras.

Essas dúvidas podem representar mais uma dificuldade para que as construtechs alcancem investimentos e ganhem a confiança do mercado. Dessa forma, sem investimentos e confiança, muitas vezes as startups de construção civil não conseguem alavancar um primeiro case de sucesso para conquistar os primeiros clientes.


Como evidenciado, as construtechs têm um desafio global, e esse cenário pode ser mais difícil em países emergentes, como o Brasil, que têm um uso ainda mais baixo de tecnologias em construção civil, e ainda lidam com outros problemas como regulamentações específicas para o desenvolvimento tecnológico da área e com a corrupção em obras públicas.


Algumas barreiras de regulamentação no Brasil, são as normas construtivas, reguladas pelo Datec (Documento de Avaliação Técnica), emitido apenas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas e pelo Grupo Falcão Bauer. O financiamento também é outro entrave no país, como é em outros países, para o desenvolvimento de empresas dedicadas a incorporar mais tecnologia e agilidade no segmento construtivo. A maioria do crédito para a construção civil ainda está em mãos estatais, por meio da Caixa Econômica Federal. A falta de crédito barato impede ganhos de escala de novos players desse setor.


Se no exterior, os investimentos em construção modular já estão na casa dos US$ 2,2 bilhões desde 2010, no Brasil a cifra movimentada por esse setor chega a R$ 60 milhões, revela levantamento feito pela MitHub. A maior parte desse montante está ligada ao projeto Brasil ao Cubo.


Por conta da incerteza vivida pela economia brasileira nos últimos dois anos, esperava-se uma janela de oportunidade para o crescimento desse setor, visando a diminuição dos custos, mais agilidade na construção e menor burocracia documental. A maioria dessas empresas ainda têm perfil de software, voltadas para sistemas computacionais e aplicativos. É o que aponta o estudo “Construção do Amanhã“, realizado numa parceria entre a consultoria Deloitte e a empresa de investimentos Terracotta Ventures. Foram ouvidas 241 empresas de diversos segmentos da cadeia da construção civil e 29 startups com soluções para este mercado. Das empresas ouvidas, apenas 28% demonstram intenção de investir em startups para desenvolver novos produtos e serviços. Apenas 20% delas possuem alguma política de incentivo e recompensa à inovação.


Na maioria dos casos (61%), as estratégias dedicadas à inovação nas corporações estão em processos internos – ou seja, ligados à configuração do negócio. Logo em seguida, aparecem estratégias voltadas à experiência do consumidor e oferta de produtos. Para o cofundador da Terracotta Ventures, Bruno Loreto, “agregar valor ao cliente por meio de serviço é fundamental para o momento em que estamos vivendo. A era da experiência exigirá que as empresas se preocupem muito mais com a jornada do cliente”, diz Loreto.


Caso as construtechs conseguiam superar essas barreiras no Brasil e no mundo, elas não apenas contribuirão para a produtividade, inovação e desenvolvimento tecnológico do setor, mas tornarão as moradias e habitações mais acessíveis. E não podemos esquecer do papel social da construção civil, cujo déficit habitacional no Brasil atualmente está em torno de 5,8 milhões de moradias, segundo estudo da Fundação João Pinheiro de 2019, e esse déficit deverá ser ainda mais grave com a pandemia global da COVID-19. O panorama do déficit habitacional pode ser transformado com as construtechs e o fortalecimento de sua atuação no mercado, por meio de inúmeros projetos, como o HousingPact, que por meio do apoio de diversas organizações, busca desenvolver e fomentar startups, empresas, produtos e serviços ligados ao setor de habitação focados na população de baixa renda.


Para Adriano Nunes, Gestor do HousingPact, o principal requisito para a inovação na construção civil para o público de baixa renda é o trabalho em rede: “Startups, empresas de crédito, técnicos e reguladores precisam trabalhar em rede. Todo esse ecossistema precisa integrar as diversas soluções para ter ganho de escala e baixar custos para o segmento de baixa renda”, diz ele.




[1] Dados de um estudo da McKinsey de 2017.

[2] Dados de um estudo da McKinsey de 2017.